Distúrbios metabólicos em ruminantes

Atualmente a nutrição dos animais no Brasil é baseada em sua grande maioria usando as pastagens como recurso basal, no entanto devido ao manejo inadequado e a sazonalidade da produção, a pastagem não fornece todos os nutrientes para atender as exigências dos animais durante todo o ano.

Uma alternativa comumente usada para maximizar a produção, obter produto de qualidade e aumentar a taxa de desfrute nas fazendas tem sido o uso de concentrado, seja ele como suplemento ou no próprio confinamento.  Contudo o aumento da quantidade de suplemento pode causar distúrbios metabólicos nos animais, podendo levar a morte do animal. Dentre os principais distúrbios metabólicos encontrados em ruminantes, o timpanismo, a acidose ruminal, a laminite, são bastante frequentes.

Nesse sentido é fundamental conhecer os processos bioquímicos e fisiológicos da digestão e assim ter uma nutrição balanceada e os cuidados essenciais para minimizar as perdas de produção.

ACIDOSE RUMINAL

A acidose ruminal é um distúrbio no metabolismo do animal não adaptado que ingere uma dieta com grande quantidade de carboidratos solúveis, causando um desequilíbrio no rumem dos animais. Esta elevada quantidade de carboidratos solúveis são rapidamente fermentados, e desse modo causa um desequilíbrio na microbiota ruminal elevando a quantidade de bactérias amilolíticas e lácticas e consequentemente há uma redução do pH em decorrência da maior produção de propionato.

A acidose pode ocorrer de diferentes intensidades, dependendo principalmente da quantidade de concentrado ingerido. A acidose lática ruminal aguda, é a mais severa na qual o animal necessita de tratamento urgente sob risco de morte, já a acidose ruminal subaguda, ou subclínica, não representa risco de morte imediato ao animal, mas leva a redução do desempenho produtivo e pode causar a debilitação do animal. Em bovinos de corte deve ser considerada acidose subclínica quando o pH ruminal abaixa de 5,8 por mais de 12 horas dia.

A prevenção da acidose ruminal pode ser feita por meio de dietas que não proporcione uma alta taxa de fermentação de ácidos graxos no rúmen, evitando um manejo que altere a flora microbiana ruminal. Em confinamento os animais dever ser adaptados previamente, ou seja, fornecer a dieta gradualmente, principalmente quando a quantidade de concentrado é superior a 50 %, além disso é recomendado fornecer a dieta de forma que possa ter sobras e fornecer aditivos e tamponantes.

 LAMINITE

Ocorre devido a ingestão de grande quantidade de grãos, podendo ser ocasionado por fatores genéticos. É uma inflamação que atinge as estruturas sensíveis da parede do casco e resulta em manqueira e deformidade permanente do casco.

O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível e busca remover a causa ou fator predisponente e o alívio da dor. A primeira medida após a constatação do problema é a remoção do animal para um piquete com forragem e água de boa qualidade, sem oferta de concentrado. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados visando minimizar o problema.

 TIMPANISMO                  

O timpanismo é um distúrbio metabólico dos ruminantes, também conhecido como meteorismo ruminal. Ocorre a distensão acentuada do rúmen e retículo, devido a não expulsão dos gases produzidos na fermentação do conteúdo ruminal, podendo levar o animal a morte devido as dificuldade respiratória e circulatória. Em sua maioria é  causado pelo excesso de concentrado, elevando a produção de ácidos graxos e causando a redução do pH ruminal e o aumento das bactérias lácticas.

O timpanismo pode ser classificado em primário (espumoso) e secundário (gasoso). O timpanismo primário é caracterizado pelo aumento da tensão superficial do líquido ruminal, forma bolhas no rumem que dificultam a eliminação dos gazes provenientes da fermentação.  Ele pode ser a causa de morte em 1% dos bovinos confinados, sendo esta forma a mais comum entre os ruminantes, que pode ser causada pela acentuada ingestão de leguminosas de alta digestibilidade, principalmente pela presença de  algumas substâncias (saponinas e pectinas) que contribuir para a formação da viscosidade que é a causa do timpanismo primário.

Outro fator, é a ingestão de dietas ricas em grãos, uma vez que dietas ricas em concentrado reduz a ruminação e consequentemente a produção de saliva. Animais que produzem menos saliva são mais susceptíveis, pois o bicarbonato salivar funciona neutralizando os ácidos ruminais, e mantém o pH ruminal a níveis que não promovem a formação de uma espuma estável com base na desnaturação das proteínas solúveis.

O  timpanismo secundário vai ocorrer devido a dificuldade de eliminação dos gases. Isso poderá ocorrer devido à obstrução de esôfago por corpo estranho, ou a doenças que causem enfartamento ganglionar, como a leucose, tuberculose, pneumonia e actinobacilose. Também poderá ocorrer timpanismo secundário quando ocorre lesão das terminações nervosas responsáveis pela eructação.

O tratamento do timpanismo vai depender do tipo e do estágio que o mesmo se encontra. Quando os sintomas são observados em condições avançadas, torna-se necessário o uso de medidas de emergência a fim de salvar o animal. Para evitar o problema é indicado evitar a adoção de dietas com excesso de grãos e deficiente em fibras, assim como a excessiva moagem dos grãos. Deve-se ter um cuidado especial no uso de feno de leguminosas, para o caso de animais estabulados.

Para uma correta nutrição de ruminantes é imprescindível conhecer os processos bioquímicos e fisiológicos dos animais, para então maximizar a produção evitando perdas com problemas evitáveis.

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Sobre João Wilian Dias Silva

João Wilian Dias Silva
Técnico em Agropecuária pela Escola Família Agrícola de Caculé, Atualmente Graduando em Zootecnia -UESB, bolsista de iniciaçao científica, 22 anos

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