A utilização de desinfetantes e medidas higiênicas em todo o processo de ordenha e produção do leite, faz com que o leite produzido apresente uma qualidade desejável ao consumidor, tornando-se um alimento saudável e competitivo no mercado.
A limpeza e a desinfecção são consideradas como principais métodos de prevenção de doenças. É indispensável que se adote um programa de limpeza e desinfecção abrangente e de uso rotineiro durante a ordenha, visando a diminuição e manutenção de uma concentração baixa de microrganismos patogênicos no ambiente, dificultando desta forma, a probabilidade de infecções no rebanho e posterior contaminação do produto, o leite. A desinfecção consiste em controlar ou eliminar os microrganismos indesejáveis, utilizando-se processos químicos ou físicos, que atuam na estrutura ou metabolismo dos mesmos. O desinfetante é um agente, normalmente químico, que mata as formas vegetativas, mas não necessariamente as formas esporuladas de microrganismos patogênicos. Geralmente essas substâncias são aplicadas em objetos inanimados. (DOMINGUES, 2017)
O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo, por isso a preocupação com a idoneidade de lácteos é crescente. No país, órgãos regulatórios, indústrias e consumidores pressionam os bovinocultores a ofertarem matéria-prima aceitável, pois perigos microbiológicos e químicos associados ao leite e seus derivados podem comprometer a segurança alimentar. A eficiência dos produtos usados no manejo de ordenha é de fundamental importância o sucesso na atividade leiteira, sendo assim um ponto crítico para o controle da mastite. A maneira mais eficaz de controle é a prevenção por meio de assepsia e testes de monitoramento periódicos (MASSEI et al, 2008).
A mastite é uma patologia de grande perda econômica para a bovinocultura de leite no mundo inteiro. O elevado impacto econômico evidencia a necessidade de monitoramento da doença, para diminuírem os prejuízos causados pela mesma. As despesas com tratamento preventivo representaram, no máximo, 9,2% do impacto econômico, o que demonstra vantagem em investir nessa prática, pois ela irá contribuir significativamente para o impacto econômico da mastite (DEMEU et al., 2011).
MANEJO SANITÁRIO
No manejo zoosanitário aplicado à ordenha na bovinocultura de leite, é bom frisar que um programa de limpeza e desinfecção é um suporte, e não um substituto de outras medidas higiênicas, tais como: estabelecer e obedecer um calendário sanitário para a atividade, o destino adequado das carcaças de animais mortos, o depósito e tratamento dos dejetos dos animais, e a utilização de baia ou área de quarentena, para novos animais que serão introduzidos na propriedade.
O objetivo de um programa de limpeza e desinfecção é manter uma concentração baixa de agentes patogênicos, diminuindo-se, consequentemente, a probabilidade de infecções. Resultando nos seguintes benefícios: o aumento da produtividade; a diminuição na incidência de doenças infecciosas e parasitárias; diminuição do número de animais refugos (debilitados); diminuição de gastos com medicamentos, por animal/ano; bem como a diminuição de gastos com mão-de-obra.
No planejamento e programação do processo de limpeza e desinfecção de todo o processo de ordenha devem ser considerados alguns parâmetros, como:
Limpeza e desinfecção da sala de ordenha
• Dispor de sala de ordenha adequadamente construída e em bom estado de conservação.
• Dispor de abastecimento de água em quantidade suficiente.
• Dar preferência a paredes (quando existirem) lisas, caiadas ou azulejadas, sem saliências ou reentrâncias.
• Fazer a limpeza do local ao final de cada ordenha, removendo-se a matéria orgânica (fezes, urina, leite) e outros materiais como restos de ração.
• Lavar o piso e as paredes com jatos de água (mangueira sob pressão) e ajuda de vassoura ou esfregão.
• Efetuar mensalmente a desinfecção da sala de ordenha, a não ser que haja recomendação especial, como por exemplo, em caso de um surto de doença. Antes da aplicação do desinfetante, limpar e lavar a sala, e retirar o excesso de água.
• Realizar a limpeza da sala de ordenha ao final de cada ordenha, possibilitando que o local esteja limpo e seco ao ser iniciada a próxima ordenha.
Ordenha
• Conduzir as vacas a serem ordenhadas de forma organizada, com calma e sem mudanças bruscas de rotina.
• Organizar linha de ordenha de modo que sejam ordenhadas sempre em primeiro lugar as novilhas e vacas saudáveis e por último as vacas mais velhas ou que tenham apresentado mastite ou outra doença.
• Garantir que os tetos das vacas estejam limpos e secos no momento da ordenha.
• Retirar os três primeiros jatos de leite em uma caneca de fundo escuro e observar o seu aspecto. Se estiver alterado, com presença de grumos, pus, amarelado ou aquoso, é sinal de mastite clínica.
• Separar e descartar o leite alterado.
• Separar o animal que apresentar alterações indicativas de mastite clínica e tratá-la de acordo com a recomendação do veterinário local.
• Garantir que os ordenhadores tenham hábitos apropriados de higiene e recebam treinamento para desempenhar suas atividades.
• Lavar somente os tetos sujos, limpando especialmente as extremidades, usando mangueira de baixa pressão. Evitar molhar o úbere.
• Desinfetar os tetos antes da ordenha (opcional). Para ser efetivo o desinfetante deve cobrir totalmente a superfície do teto e atuar por, no mínimo, 30 segundos.
• Secar completamente os tetos, usando papel toalha descartável.
• Iniciar a ordenha dentro de um minuto após a preparação do úbere.
• Ordenhar cada animal com calma, de forma ininterrupta e completa.
• Colocar as teteiras com os cuidados necessários para minimizar a entrada de ar no sistema e ajustá-las (em caso de ordenha mecânica).
• Adotar cuidados especiais com a higienização das mãos do ordenhador e evitar que sujeiras caiam no balde enquanto o leite está sendo retirado (na ordenha manual).
• Fazer a imersão completa dos tetos em desinfetante apropriado, imediatamente após a ordenha. Cobrir completamente os tetos com o desinfetante.
• Descartar as sobras de desinfetante usado no final do dia.
• Usar desinfetantes apropriados, formulados especialmente para a higienização dos tetos.
• Garantir que as vacas se mantenham de pé após a ordenha, fornecendo-lhes alimento no cocho após a ordenha.
• Fazer a limpeza completa dos utensílios ou equipamentos, seguindo as recomendações do fabricante, ao final de cada ordenha.
• Limpar o local ao final de cada ordenha.
Ordenha mecânica
• Efetuar a manutenção do equipamento, seguindo as recomendações do fabricante.
• Capacitar o ordenhador quanto ao uso da ordenhadeira e práticas/hábitos higiênicos.
• Circular água morna de boa qualidade à temperatura de 40 °C a 45 ºC, imediatamente após a ordenha da última vaca. A quantidade de água deve ser tal que não se observe leite no final desta etapa.
• Circular detergente alcalino em água quente (70 ºC a 80 ºC). Enxaguar o equipamento com água fria.
• Circular, pelo menos uma vez por semana, ou diariamente (como enxágue ácido), solução ácida e enxaguar com água fria, seguindo drenagem completa do sistema.
• Usar produtos químicos específicos e apropriados para a higienização de equipamentos, seguindo o esquema de limpeza proposto pelo fabricante ou assistência técnica.
• Efetuar inspeção visual, observando se há algum resíduo ou depósito nas superfícies.
• Verificar se a válvula de saída está limpa e se toda a água foi drenada.
• Circular solução sanitizante apropriada 30 minutos antes da ordenha, drenando bem o sanitizante antes do início da ordenha.
Ordenha manual
• Adotar procedimentos semelhantes aos recomendados para a ordenha mecânica em relação ao local de ordenha, cuidados higiênicos e manejo dos animais.
• Utilizar baldes de aço inoxidável, semi-abertos, em bom estado de conservação e limpeza.
• Utilizar latões em bom estado de conservação e adequadamente limpos.
• Efetuar a filtragem do leite utilizando filtros de aço inoxidável ou de plástico.
• Enxaguar baldes e latões com água potável, à temperatura morna, ao final da ordenha.
• Lavar baldes e latões com detergente alcalino, esfregando toda a superfície, usando escova apropriada.
• Enxaguar em seguida com água fria e drenar bem ao final.
• Lavar todos os utensílios com solução ácida uma vez por semana.
• Guardar os baldes com a boca virada para baixo em local limpo e seco.
• Manter os latões limpos e bem fechados quando não estiverem em uso.
• Higienizar latões e baldes com solução química como o hipoclorito de sódio a 200 ppm, drenando bem a solução antes do uso.
Pós-ordenha: resfriamento e estocagem do leite
• Manter o tanque de refrigeração de forma apropriada, seguindo as recomendações do fabricante.
• Usar produtos de limpeza apropriados e proceder a higienização do equipamento de acordo com as recomendações do fabricante.
• Resfriar o leite à temperatura inferior a 4 ºC em até 2 horas após a ordenha.
• Enviar o leite para o tanque comunitário, observando a legislação em vigor, quanto ao prazo e procedimentos, quando não se dispuser de tanque de refrigeração próprio.
• Efetuar a limpeza do tanque de refrigeração imediatamente após a retirada do leite, adotando-se os seguintes passos, que podem ser modificados de acordo com as recomendações do fabricante:
• Circular água morna de boa qualidade à temperatura de 40-45 ºC até que a água saia limpa;
• Usar detergente alcalino a ser diluído em quantidade de água adequada para o tamanho do tanque. Esfregar toda a superfície, o agitador, a tampa e demais componentes com escova específica para esta finalidade.
• Enxaguar com água fria.
• Verificar se a válvula de saída está limpa e se toda a água foi drenada.
• Usar solução desinfetante ácida ao menos uma vez por semana.
• Enxaguar o tanque com solução sanitizante 30 minutos antes da ordenha, realizando a drenagem cuidadosa em seguida.
• Efetuar manutenção do tanque de refrigeração, adotando os procedimentos recomendados pelo fabricante ou assistência técnica.
Referêcias
DEMEU, F. A. et al. Influência do descarte involuntário de matrizes no impacto econômico da mastite em rebanhos leiteiros. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 35, n. 1, p. 195-202, jan./fev., 2011.
DOMINGUES, F.P. Higiene Zootécnica: desinfecção e desinfetantes. Disponível em: <http://www.fmvz.unesp.br/paulodomingues/graduacao/aula5-texto.pdf> Acesso em: 05 de junho. 2017.
EMBRAPA GADO DE LEITE. Manejo da ordenha e da pós ordenha Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/book/export/html/421> Acesso em: 02 de junho. 2017.
MASSEI et al. Mastite – diagnóstico, tratamento e prevenção: revisão de literatura. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. V. 6, n.10, janeiro de 2008.
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