Dados Longitudinais: Como analisar???

 

No melhoramento genético dos animais de produção existem características chave para o sucesso dos diferentes sistemas de produção. Em melhoramento genético de animais para corte, geralmente as características relacionadas ao crescimento são consideradas de maior importância, sendo definidas como critérios de Seleção. Já em melhoramento genético de rebanhos leiteiros, as características relacionadas à produção e à qualidade do leite são priorizadas. Em se tratando de seleção para aves poedeiras, o número de ovos produzidos é uma importante característica a ser considerada.

Nos programas de melhoramento genético de animais de produção, seja qual for o objetivo de criação, o desempenho dos animais pode ser avaliado durante toda a vida de um indivíduo, gerando informações da mesma natureza, mensuradas em diferentes estágios da vida do mesmo. As medidas que podem ser mensuradas várias vezes durante a vida de um animal são chamadas de dados longitudinais. Exemplos de dados longitudinais são o tamanho e o peso corporal, produção de leite, consumo de matéria-seca, deposição de gordura, produção de ovos, tamanho do ovo, entre outras.

As características longitudinais, de interesse zootécnico, mais comumente avaliadas em programas de melhoramento genético são o crescimento, em animais de corte e a produção de leite, em animais leiteiros.

O crescimento pode ser descrito como uma mudança no peso vivo por unidade de tempo ou pela plotagem do peso corporal pela idade. A avaliação do crescimento, frequentemente, é feita considerando os pesos às diferentes idades (nascimento, desmama, pós-desmama, sobreano e peso adulto) como características separadas e independentes. No entanto, os melhoristas estão interessados nas relações genéticas e fenotípicas durante todas as fases do crescimento dos animais, uma vez que a análise do crescimento de um animal, através de seu ciclo de vida, é útil para estabelecer estratégias de alimentação adequadas e a melhor idade para o abate.

Já nos programas de melhoramento genético para a produção de leite, é importante o conhecimento da variação da produção ao longo da lactação, cuja representação gráfica é conhecida como curva de lactação.

Existem funções matemático-estatísticas que podem ser ajustadas para descrever o comportamento de uma variável, sendo as mais conhecidas as curvas de lactação, para o ajuste da produção de leite, e as curvas de crescimento, para o ajuste do desempenho ponderal, dos animais de corte. Essas funções, desenvolvidas para a análise de características longitudinais, utilizam as sucessivas informações para gerar inferências sobre as mudanças do desempenho ao longo do tempo.

De modo superficial, os dados longitudinais seriam medidas repetidas de uma mesma característica, avaliada em momentos sucessivos, durante a vida de um animal. Biologicamente, haveriam diferentes genes que estariam sendo ativados e desativados, em diferentes idades, causando mudanças na fisiologia e desempenho. Essas características também têm sido chamadas de características de dimensões infinitas, uma vez que, por exemplo, a idade de um animal pode ser mensurada em anos, meses, semanas, dias, horas, minutos ou segundos, havendo um intervalo contínuo de pontos, em que um animal pode ser observado para uma característica.

As medidas repetidas (dados longitudinais) de um mesmo indivíduo têm sido analisadas sob diferentes metodologias. Para a avaliação genética de curvas de crescimento, duas abordagens principais são recomendadas: ajuste de regressões não-lineares aos dados (por exemplo, modelos de regressão logística, exponencial, Gompertz ou Richards) ou a regressão aleatória. Em curvas de lactação, as abordagens usuais têm utilizado os modelos de repetibilidade e de dimensão finita (test-day models), em análises uni ou multicaracterísticas, sendo, mais recentemente, também propostos os modelos de regressão aleatória.

Os modelos de Regressão Aleatória (RA) diferem entre si por meio da função utilizada para descrever a curva de crescimento ou de lactação a ser ajustada. No entanto, qualquer modelo de RA ajustado permite a obtenção de curvas (crescimento/lactação) aleatórias para cada animal, como desvios de uma curva média da população, utilizando funções lineares.

De um ponto de vista extremamente simplista, a grande vantagem dos modelos de Regressão Aleatória, em relação aos demais modelos disponíveis, é a possibilidade de se obter estruturas de (co)variâncias, entre as diferentes medidas, para os efeitos aleatórios incluídos no modelo.

Neste ponto você pode se perguntar: Por que não utilizar um modelo linear multicaracterística?

Na verdade, os modelos de regressão aleatória são um tipo especial de análise multicaracterística. No entanto, em um modelo multicaracterística comum, as medidas repetidas são consideradas características independentes. Portanto, não é considerada a estrutura de (co)variâncias existente entre as medidas. Já em um modelo de Regressão Aleatória, as diferentes medidas são consideradas repetições de uma mesma característica, havendo, portanto, uma estrutura de covariâncias e correlações entre elas, de forma que, quanto mais próximas, no tempo, estas medidas forem tomadas, maior será a correlação entre elas.

Finalmente, existem diferentes metodologias e abordagens disponíveis para a análise de dados longitudinais, sendo a escolha do método mais adequado, a cada situação, passo fundamental para a obtenção de valores genéticos mais acurados, levando à seleção dos genótipos superiores e garantindo maiores ganhos genéticos nas características de importância econômica.

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Sobre Lenice Mendonça de Menezes

Lenice Mendonça de Menezes
Possui Graduação em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba, Mestrado em Genética e Melhoramento Animal pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/FCAV - Jaboticabal e Doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba, onde tem trabalhado com Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte. Atualmente é bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial do CNPq, atuando no desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Extensão, na Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA-PB). Tem experiência na área de Melhoramento Genético de Bovinos, Caprinos e Ovinos de Corte.

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